Da garantia do progresso do gênero humano no Kant tardio
Palavras-chave:
filosofia da história, progresso, paz, natureza, providênciaResumo
A pergunta pelo progresso jurÃdico-polÃtico e moral da humanidade, de acordo com uma ideia de como deveria ser o curso do mundo, se ele fosse adequado a certos fins racionais, é estabelecida por Kant em 1784. Depois foi tratada em diferentes textos, com destaque para 1798. Nestes pensa-se a “aproximação de um estado jurÃdico-polÃtico mais perfeito possÃvel aos homens†enquanto caminho para o aperfeiçoamento moral do gênero humano, sendo que o primeiro é meio-fim para se alcançar o segundo. Tal linearidade, entretanto, não é encontrada quando se pergunta pelo mecanismo propulsor de garantia desse progresso. No primeiro escrito sobre a filosofia da história da fase crÃtica (1784), as disposições antagônicas “sociabilidade insociávelâ€, impostas pela natureza na natureza humana, são apresentadas como a mola propulsora para o desenvolvimento das potencialidades humanas. Todavia, no último texto crÃtico dedicado à filosofia da história (1798), Kant introduz um aspecto positivo na natureza humana, até então não tratado, a saber, a tendência moral do gênero humano, enquanto a responsável por tal progresso. Neste artigo, apontarei alguns elementos que auxiliam a explicar essa alteração quanto ao mecanismo de garantir o progresso da humanidade no Kant tardio. Defenderei, em suma, que há uma transição de uma filosofia da história pautada numa estrutura heteroimposta (impulsionada pela natureza e providência) para uma autoimposta – um dos motivos, inclusive, para a retomada da pergunta pela possibilidade de uma história a priori em 1798.Referências
BECK, L. W. Kants Kritik der praktischen Vernunft. Ein Kommentar. München: Fink, 1974.
BELWE, A. Ungesellige Geselligkeit - Kant: Warum die Menschen einander "nicht wohl leiden", aber auch "nicht voneinander lassen" können. Würzburg: Königshausen & Neumann, 2000.
BOROWSKI, L. E.; JACHMANN, R. B.; WASIANSKI, E. A. Ch.. “Wer war Kant? Drei zeitgenössische Biographien von Immanuel Kantâ€. In: DRESCHER, S. (org.). Stuttgart: Neske Stuttgart, 1974.
BORRIES, K. Kant als Politiker. Zur Staats- und Gesellschaftslehre des Kritizismus. Leipzig: Meiner, 1928.
BRANDT, R. Kritischer Kommentar zu Kants Anthropologie in pragmatischer Hinsicht. Hamburg: Meiner Verlag, 1999.
BUFFON, G.-L. L. C. de. Histoire naturelle générale et particulière. Paris: L’Imprimerie Royale, 1749-1767.
BURG, P. Kant und die Französische Revolution. Berlin: Duncker & Humblot, 1974.
CAVALLAR, G. Pax Kantiana: systematisch-historische Untersuchung des Entwurfs "Zum ewigen Frieden" (1795) von Immanuel Kant. Wien/Köln/Weimar: Böhlau, 1992.
FETSCHER, I. “Immanuel Kant und die Französische Revolutionâ€. In: Kant als politischer Denker. GERRESHEIM, E. (org.). Inter Nationes Bonn-Bad Godesberg, 1974, 27-43.
GERHARDT, V. Immanuel Kants Entwurf "Zum ewigen Frieden": eine Theorie der Politik. Darmstadt: Wissenschaft Buchgesellschaft, 1995.
GUYER, P. Kant on freedom, law, and happiness. New York: Cambridge University Press, 2000.
HECK, J. N. Da razão prática ao Kant tardio. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007.
HERRERO, J. Religião e história em Kant. São Paulo: Loyola, 1991.
HÖFFE; O. (org.). Metaphysische Anfangsgründe der Rechtslehre. Berlin: Akademie Verlag, 1999.
HÖFFE; O. (org.). Zum ewigen Frieden. Berlin: Akademie Verlag, 1995.
KANT, I. Kant's Werke. Preußischen Akademie der Wissenschaft (org.). Berlin: Walter de Gruyter, 1902 ss.
KERSTING, W. Kant über Recht. Regensburg: Mentis, 2004.
KERSTING, W. Wohlgeordnete Freiheit: Immanuel Kants Rechts- und Staatsphilosophie. Berlin/New York: de Gruyter, 1984.
KOSLOWSKI, P. Staat und Gesellschaft bei Kant. Tübingen: Mohr, 1985.
LEBRUN, G. Kant sans kantisme. Francis Wolff (org.). Paris: Fayard, 2009.
LOPARIC, Z. “O problema fundamental da semântica jurÃdica de Kantâ€. In: O filósofo e a sua história. SMITH, P. e WRIGLEY, M. B. (orgs.) Campinas: Unicamp/CLE, 2003, 481-524.
LOSURDO, D. Immanuel Kant. Freiheit, Recht und Revolution. Köln: Pahl-Rugenstein, 1987.
MEDICUS, F. Kants Philosophie der Geschichte. Berlin: Reuther u. Reichard, 1902.
NEIMAN, S. Das Böse denken. Eine andere Geschichte der Philosophie. Frankfurt am Main: Suhrkamp Verlag, 2004.
PEREZ, D. O. “Os significados da história em Kantâ€. Philosophica. Lisboa, v. 28 (2006), p. 67-107.
PHILONENKO, A. La théorie kantienne de l´histoire. Paris: Vrin, 1986.
SCHERER, F. C.. “Resolução kantiana do problema do progresso do gênero humanoâ€. In: SCHERER, F.; CACHEL, A.; FELDHAUS, C.; UTTEICH, L. (Org.). Temas de filosofia moderna e contemporânea I. 1ed.Guarapuava: Apolodoro Virtual Edições, p. 87-104, 2017.
RAULET, G. Kant, Historie et citoyennete. Paris: PUF, 1996.
TERRA, R. R. A polÃtica tensa: idéia e realidade na filosofia da história de Kant. São Paulo: Iluminuras, 1995.
WEIL, E. La philosophie politique de Kant. Paris: Presses Universitaires de France, 1962.
YOVEL, Y. Kant and the philosophy of history. New Jersey: Princeton University Press, 1980.
ZAMMITO, J. H. Kant, Herder and the birth of anthropology. Chicago: University of Chicago Press, 2002.
ZINGANO, M. A. Razão e história em Kant. São Paulo: Brasiliense, 1989.