DISCUSSÃO: Ética e Felicidade. Notas para uma revisão reconstrutiva da doutrina kantiana do sumo bem Autores João Carlos Brum Torres Universidade de Caxias do Sul (Caxias do Sul, RS, Brasil) Resumo Este artigo trata de retomar a discussão recente sobre o conceito kantiano de sumo bem e do complexo doutrinário que lhe é conexo. O interesse que o motiva é o desejo de compreender por que Kant, não obstante tenha feito ― na Fundamentação da metafÃsica dos costumes e na AnalÃtica da crÃtica da razão prática ― o mais radical esforço para seccionar os conceitos de moralidade e felicidade, não renuncia a esse nexo conceitual, mas trata de restabelecê-lo ao introduzir o conceito de sumo bem. Do ponto de vista exegético, a aposta feita aqui é que não se compreenderá verdadeiramente a posição de Kant sem dar a devida importância à introdução do conceito de justiça na abertura do segundo capÃtulo da Dialética da razão prática pura. A análise assume caráter reconstrutivo ao sustentar que o requisito de que deve implica pode ― implÃcito no argumento que faz depender a obrigação de distribuição da felicidade em proporção à virtude, não só da praticabilidade da ligação contida em tal obrigação, mas da garantia de pleno e completo êxito nesse ajuste da felicidade à virtude ―, contém um non sequitur, eis que o vÃnculo sintético entre virtude e felicidade é de caráter normativo ― o que é dizer que, como todo princÃpio normativo, embora exija a possibilidade de sua execução prática, não exige nem a necessidade, nem a segurança de pleno êxito para esse intento realizador. A conclusão do texto é que se deve ter a felicidade ao mesmo tempo como um direito, cuja efetivação o justo reclama legitimamente, e como um fim, com cuja realização estamos todos, universal e normativamente, comprometidos. Downloads PDF Edição v. 10 n. 13 (2012) Seção Artigos